Título
CONSULTA DE ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA: UM INSTRUMENTO PARA O AVANÇO TERAPÊUTICO DE SUJEITOS COM TRANSTORNOS MENTAIS ORGÂNICOS
Autores
Jovelina Fernandes dos Santos (Relatora)
Letícia de Sousa Eduardo
Luiz Henrique da Silva
Nívea Mabel Medeiros
Fernanda Formiga Flávio
Modalidade
Comunicação coordenada
Área
Enfermagem em Saúde Mental

Introdução:
Os transtornos mentais causam grande incapacidade na vida dos indivíduos, interferindo negativamente no desenvolvimento das relações sociais, uma vez que por não apresentarem o padrão de comportamento estabelecido pela sociedade passam a ser estigmatizados, o que contribui para o isolamento social. No que tange ao transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado, esse é compreendido como uma série de transtornos mentais agrupados por terem em comum uma doença cerebral de etiologia conhecida, podendo ser uma lesão cerebral ou outro dano que leva a uma disfunção. Essa pode ser primária, no caso de lesões ou danos que afetam direta e seletivamente o cérebro, ou secundária, como nas doenças sistêmicas nas quais o cérebro é um dos múltiplos órgãos envolvidos (BRUNON, 2008). Portanto, fazem parte desse grupo, a doença de Alzheimer, demência vascular, a síndrome amnésica orgânica (não-induzida por álcool ou psicotrópicos) além de outros transtornos orgânicos como ansiedade, síndrome pós-encefalite e pós-traumática, incluindo, também, a psicose orgânica e a psicose sintomática. Reis et al  (2013) definiu o perfil dos pacientes com o transtorno orgânico, como sendo o sexo masculino o mais acometido, de idade avançada e com baixa escolaridade. A consulta de enfermagem psiquiatria é uma ferramenta utilizada pelo enfermeiro que possibilita o acesso aos dados do paciente e utilizá-los como base para a construção dos cuidados. Portanto, a realização dessa consulta apresenta-se importante no desenvolvimento do processo de enfermagem, possibilitando melhoria no manejo dos cuidados ao paciente com transtornos psíquicos.

Objetivo:
Descrever a experiência acerca da realização da consulta de enfermagem psiquiátrica ao paciente com transtornos mentais orgânicos.

Método:
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, executado durante as atividades práticas da disciplina de Enfermagem Psiquiátrica do curso de graduação de Enfermagem, realizada no dia 05 de abril de 2017, em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) no município de Cajazeiras, Paraíba. Os dados foram coletados por meio da consulta de enfermagem psiquiátrica, esse instrumento tem a finalidade de coletar informações relacionadas ao transtorno mental apresentado pelo paciente, sendo composto por: histórico de enfermagem (nome, idade, gênero, ocupação, uso de medicações, terapias realizadas, queixa principal, motivo do atendimento, história da doença atual, antecedentes patológicos, história fisiológica, pessoal e familiar) e anamnese direcionada realizada através de exame psíquico (avaliando a aparência, a atitude, memoria, linguagem, pensamento, sensopercepção entre outras questões). Posteriormente foram elaborados diagnósticos de enfermagem, através das características definidoras e dos fatores relacionados ou de risco, determinados pela taxonomia da Associação Norte-Americana de Diagnósticos de Enfermagem (NANDA), e em seguida foram elaboradas as intervenções de enfermagem de acordo com as necessidades específicas.

Resultados:
Paciente de iniciais JRC, 59 anos, sexo feminino, casada, aposentada. Apresentou o diagnostico segundo a Classificação de Transtornos mentais e de Comportamento-CID-10- F09: transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado. A paciente é mãe de cinco filhos, inclusive uma das filhas realiza tratamento terapêutico psiquiátrico, devido ao abuso sexual ocorrido na infância. Esse fator contribuiu para que a mesma desenvolvesse mudança comportamental e passasse a adquirir o transtorno mental orgânico. Após a realização da consulta psiquiátrica foram estabelecidos os seguintes diagnósticos de enfermagem: Autocontrole ineficaz da saúde relacionado ao déficit de conhecimento sobre os medicamentos evidenciado por não incluir o tratamento medicamentoso a sua vida diária; Sobrecarga de estresse relacionando ao estressor (transtorno da filha) evidenciado por relato de sobrecarga familiar; Atividade de recreação deficiente relacionada a ausência de atividade de recreação e evidenciado por relato verbal; e Manutenção do lar prejudicada relacionada a organização familiar insuficiente evidenciado por relato de dificuldade no relacionamento entre os membros da família. Para estes diagnósticos foram elaboradas as seguintes intervenções: explicar a importância e incentivar a adesão ao tratamento medicamentoso, bem com suas finalidades, ações terapêuticas e possíveis efeitos colaterais; registrar e monitorar o uso dos medicamentos; usar uma abordagem calma e segura que ajude ao paciente a exteriorizar seus sentimentos e preocupações; ajudar a identificar as situações precipitadoras de estresse; oferecer suporte emocional; orientar quanto ao uso de técnicas de relaxamento, tais como a musicoterapia, meditação, entre outras; encorajar a comunicação interpessoal saudável; proporcionar atividades de diversão com a filha; incentivar a pratica de atividade física como a caminhada e encorajar a participação e atividades de lazer; incluir a presença do marido nas consultas, buscando que o mesmo possa compreender os fatores relacionados com o transtorno. Além disso, propusemos que sejam realizadas visitas domiciliares pelo enfermeiro para melhor entendimento do contexto que o ator social está inserido e proporcionar uma melhor intervenção. Portanto, o portador de transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado requer cuidados especiais, para isso necessita de envolvimento contínuo e compartilhado entre os profissionais de enfermagem, família e comunidade com intuito de fortalecer o relacionamento interpessoal e melhorar a qualidade de vida desse indivíduo.

Considerações finais:
A consulta de enfermagem psiquiátrica é uma potente ferramenta para o enfermeiro planejar os cuidados a pessoa com transtornos mentais, pois proporciona a construção do vínculo de confiança entre o profissional e paciente, buscando autonomia e o compartilhamento de saberes entre ambos. Além disso, pôde-se identificar que o CAPS II não adota o Processo de Enfermagem como ação norteadora da assistência, fazendo com que os cuidados de Enfermagem sejam resumidos a práticas verticais e simplistas, visto que sem os registros muitas informações e diagnósticos ficam negligenciados pela equipe, o que resulta em uma menor qualidade de intervenções que poderiam ser positivas para a saúde do paciente, surgindo assim lacunas no processo de trabalho do enfermeiro. Sendo assim, faz-se necessária que haja a capacitação dos profissionais de enfermagem que atuam nos serviços de saúde mental na utilização da consulta de enfermagem como ação norteadora do seu trabalho.  No mais, a partir desse instrumento foi possível um melhor entendimento acerca do transtorno mental orgânico, além de perceber o quanto os familiares tornam-se vulneráveis a desenvolver transtornos mentais.  

Descritores: Processos de enfermagem; Psiquiatria; Transtornos mentais; 

REFERÊNCIAS
BRUNONI, A.R. Transtornos mentais comuns na prática clínica. Rev Med . 87(4):251-63, 2008.
NANDA. Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e classificação (2015-2017). Porto Alegre: Artmed, 2015. 
REIS, L. N; PEREIRA, S.S; CARDOSO, L.; GHERARDI-DONATO, E.C.S. Transtornos mentais orgânicos em um ambulatório de Saúde Mental brasileiro. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, n. 9, p. 48-53, 2013.
TANUNURE, M. C; GONÇALVES, A.M.P. Sistematização da Assistência de Enfermagem : Guia Prático- 2ª Edição- Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.