Título
O FAMILIAR DO PORTADOR DE SOFRIMENTO MENTAL: OS DESAFIOS NO CUIDADO
Autores
Áurea Symone Gonçalves de Oliveira (Relatora)
Leandro Nonato da Silva Santos
Rogênia Araújo Campos
Genicléia Lisboa Rolim
Cryslanny de Souza Maciel e Silva
Aissa Romina Silva do Nascimento
Modalidade
Comunicação coordenada
Área
Enfermagem em Saúde Mental

INTRODUÇÃO
A partir da reforma psiquiátrica com a eliminação dos manicomios, através da desistitucionalização, o familiar do portador de sofrimento mental passou a fazer parte do tratamento do mesmo, com a finalidade de contribuir para sua melhora através de parceria com os serviços inclusivos do novo modelo de assistência em saúde mental. (GOMES; MELLO, 2012).

O conjunto familiar tem grande importância na vida dos membros que fazem parte da mesma, tendo em vista que é no ambiente familiar que o individuo se desenvolve, pois é nesse meio que o mesmo recebe carinho, educação, valores relacionados a si e aos outros, bem como concepções próprias e educação de forma geral, estando-o pronto e instruído para as batalhas da vida (NASCIMENTO, et. al, 2016).

Quando um membro familiar sofre com alguma patologia, inclusive um transtorno mental, interfere diretamente na rotina existencial do grupo familiar em sua totalidade, principalmente do cuidador principal tendo em vista que o mesmo passa a assumir as responsabilidades e se dedicar ao fardo imposto pelo processo de adoecimento do sujeito, ficando por muitas vezes sobrecarregados surgindo então consequências negativas (GOMES;MELLO, 2012). 

Apesar de toda mudança ocorrida com a reforma psiquiátrica as famílias ainda não se veêm como componente essencial na assistência ao membro com sofrimento mental, isso porque antes não eram incluídos no cuidado (Macêdo, et. al, 2016). Diante disso, é essencial verificar como a família e a sociedade tem arquitetado os vínculos e convívio com os indivíduos portadores de sofrimento mental, como tem sido a aceitação comunitária e social, e quais os obstáculos rotineiros do grupo familiar relacionado à assistência junto ao ator social doente (VICENTE, et. al, 2013).

Percebe-se que a família do portador de sofrimento mental apesar das dificuldades, é a estrutura importante que pode cuidar do mesmo, sendo essa a base do acolhimento, portanto diante do exposto para a elaboração do presente trabalho utilizou-se a seguinte questão norteadora: “Quais os principais desafios enfrentados pelos familiares do portador de transtornos mentais?”.

O estudo torna-se relevante, pois visa contribuir para ampliação de informações acerca dessa temática, levando acadêmicos e profissionais que trabalham na área de saúde mental a fomentar mais estudos sobre o tema, além de analisar suas práticas e desenvolver meios e a ações de promoção da saúde do meio familiar de indivíduos com sofrimento mental. 

OBJETIVO
O objetivo do presente trabalho foi identificar e conhecer os principais desafios enfrentados pelos familiares dos portadores de sofrimento mental relacionados ao cuidado e convívio.

MÉTODO
Trata-se de uma revisão de literatura, realizada no mês de maio de 2017, com artigos publicados entre os anos 2012 e 2017. A partir da problemática realizou-se o levantamento bibliográfico na base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), tendo como descritores pertencentes ao DeCS: “saúde mental”; “transtornos mentais” e “família”, com o operador Booleano “And”. Sendo incluídos na análise apenas os artigos em português de acesso livre e que abordassem aspectos de transtornos mentais no meio familiar. Foram excluídas as publicações duplicadas, bem como, as que não respondiam à questão norteadora e que não estavam entre os critérios de inclusão.

Depois de inserir os descritores na base de dados e definir os limites foram localizados 88 trabalhos, que após análise e leitura de seus títulos, foram pré-selecionados 30 artigos, posteriormente feita à leitura dos resumos dessas literaturas, 13 foram selecionadas, porém apenas 06 foram incluídos na amostra, pois respondiam a questão norteadora e estavam dentro dos limites selecionados, por fim foi realizada uma análise coletiva dos conteúdos disponíveis para elaboração do estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As literaturas usadas nessa revisão mostraram que existem vários desafios enfrentados pelos familiares de portadores de sofrimento mental, no que diz respeito ao cuidado. Todos os autores trabalharam essa temática apontando as dificuldades do familiar relacionados ao cuidado ao indivíduo acometido por sofrimento mental no meio familiar.

Segundo Gomes e Mello (2012), as famílias sofrem em conjunto com o membro familiar doente, vivenciando também problemas emocionais e psicopatológicos tendo em vista que, dependendo do estado do ente adoecido, os familiares tendem a ficar estressados, aflitos, tristes, angustiados, além de se sentirem-se culpados a ponto de se isolarem e entrar em estado de depressão, sendo que esses fatores podem interferir na continuidade do cuidado.

Sabendo-se que os portadores de transtornos mentais estão propícios a passar por crises, em muitos casos, o conjunto familiar encontra-se despreparado apresentando dificuldades para lhe dar com a situação, o que pode ocasionar conflitos no lar, impondo sentimentos difíceis nos familiares, fragilizando o convívio e o vínculo, interferindo no processo de reinserção comunitária desse indivíduo (WAIDMAN;COSTA;PAIANO, 2012).

A rotina familiar fica comprometida e algumas atividades não são mais realizadas, dentre elas o lazer familiar que pode não ocorrer devido aos estigmas e preconceitos que ainda existem, a alta demanda de gastos principalmente por parte do cuidador principal, que arca com despesas de medicamentos, alimentação e bens em geral para sobrevivência familiar (GOMES; MELLO, 2012).

Ainda de acordo com os autores acima, os familiares passam a oferecer um cuidado geral ao ente doente, levando em consideração que alguns apresentam fragilidade ou incapacidade de realizar o autocuidado, diante disso o familiar assume a função de cuidar da higiene, da alimentação e controle da medicação, o que ocasiona uma sobrecarga para o cuidador, sendo também uma situação de desgaste familiar, causando impacto no seu cotidiano.

Em estudo realizado por Macêdo et. al, (2016), o mesmo abordou esta questão das dificuldades durante a realização dos cuidados por parte da família, em que pôde identificar que apenas uma pequena parcela dos sujeitos do estudo não relataram dificuldades, sendo assim a quantidade maior afirmar que as principais dificuldades são: agressividade, a organização e higienização do ambiente, além do estresse, conflitos e sobrecarga, levando em consideração a alta dependência de cuidados por parte do sujeito adoecido.

Outro desafio relacionado ao cuidado, é o sentimento de medo por parte dos familiares, sentimento esse que anda em conjunto com a não aceitação familiar e social. Em conjunto com esse estado emocional, muitas vezes a família tem vergonha, sentem-se constrangidos e tem receio das consequências da conduta do doente no meio social, prejudicando o vínculo, convívio e aceitação social e familiar (VICENTE, et. al, 2013).

De acordo com Machineski e Schneider (2013), nem sempre os familiares sabem lhe dar com o membro familiar adoecido, principalmente, quando são violentos, acabando por buscar ajuda nos centros de atenção psicossocial, no intuito que esse dispositivo contribua significativamente na melhora do sujeito, no que diz respeito a saber lidar com o sofrimento mental e como comporta-se diante do meio social, havendo consequentemente a reinserção comunitária e familiar do sujeito. Sendo assim, para o familiar os Caps podem ser vistos como um instrumento com capacidade de controlar o indivíduo.

Macêdo et. al, (2016), em seu estudo diz que por vários fatores, nem sempre os serviços de saúde mental podem dar o suporte adequado aos familiares, e estes acabam por resgatar as ações desenvolvidas no modelo manicomial em seu próprio lar, isolando o ente adoecido, negligenciando seus direitos, punindo-o trancando em seu lar, quando não violentando-os. Ainda de acordo com os autores, os familiares se preocupam em resolver o problema da violência, seja com medicamentos ou não, e controlar o comportamento do sujeito frente as condições geradas pelo sofrimento mental, e a maioria justificam a prática do isolamento e privação de liberdade como sendo uma estratégia de segurança, protegendo-os da fuga e de ficarem pelas ruas sofrendo e correndo riscos.

Por fim, nos estudos utilizados neste trabalho abordou-se também a importância do profissional de enfermagem dos serviços de saúde mental com relação ao cuidado ao ator social portador de sofrimento psíquico e, a prevenção e promoção da saúde do cuidador familiar, dentro das redes de cuidado em saúde mental ou no ambiente domiciliar.
CONCLUSÃO
Entende-se que é no meio familiar que o indivíduo recebe os cuidados e apoio, sendo a estrutura considerada a base para o desenvolvimento geral do indivíduo. Entretanto, podem vir a surgir problemas que podem interferir no cuidado e desenvolvimento do sujeito. Portanto, no presente estudo foi possível identificar alguns obstáculos que podem interferir no cuidado ao ente familiar portador de transtorno mental, que estão relacionados à sobrecarga de atividades por parte de quem assiste e cuida do doente, a deficiência dos serviços em assistir aos usuários, falta de informações, estresse, medo e outros problemas emocionais, além de fatores sociais e financeiros do ambiente familiar.

Em virtude disso, faz-se necessário que a familia receba o apoio das redes de serviços assistencial em saúde mental e social, e que não apenas o portador de sofrimento mental receba a assistência, tendo em vista que há a necessidade de prestação de cuidados também com o membro familiar cuidador e dos demais integrantes do grupo familiar. Por isso os dispositivos de cuidados em saúde mental, são capazes de produzir estratégias para reduzir os danos e obstáculos relacionados ao cuidado e a saúde mental do ator social adoecido e também dos familiares envolvidos no cuidado. Nesse contexto o profissional de enfermagem é um ator importante nessas ações, considerando a habilidade e os conhecimentos para o cuidado integral e humanizado ao sujeito.
Descritores: Família; Saúde Mental; Transtornos Mentais. 

REFERÊNCIAS
GOMES,MS; MELLO R.Sobrecarga gerada pelo convívio com o portador de esquizofrenia: a enfermagem construindo o cuidado à famíliaSMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed.port.) jan.-abr. 2012;8(1):2-8.Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762012000100002&lng=pt&nrm=iso>. acessado em  25  maio  2017.
MACEDO, J. P., SOUSA, A. P., SILVA, A. M. B. O., TEIXEIRA, J. L. C. C., VERAS, G. F.A Problemática do Cárcere Privado para Familiares e Trabalhadores da Saúde Mental.Trends in Psychology / Temas em Psicologia – 2016, Vol. 24, nº 2, 507-518.
 MACHINESKI GG, SCHNEIDER JF, CAMATTA MW. O tipo vivido de familiares de usuários de um centro de atenção psicossocial infantil. Rev Gaúcha Enferm. 2013;34(1):126-132. 
NASCIMENTO KC, KOLHS M, MELLA S et al.O desafio familiar no cuidado às pessoas acometidas por transtorno mental.Rev enferm UFPE on line., Recife, 10(3):940-8, mar., 2016. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/viewFile/11044/12449. Acessado em 25 de maio de 2017
VICENTE JB, MARIANO PP, BURIOLA AA, PAIANO M, WAIDMAN MAP, MARCON SS. Aceitação da pessoa com transtorno mental na perspectiva dos familiares. Rev Gaúcha Enferm. 2013;34(2):54-61. 
WAIDMAN MAP, COSTA B, PAIANO M. Percepções e atuação do Agente Comunitário de Saúde em saúde mental.Rev Esc Enferm USP 2012; 46(5):1170-1177.