Título
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AÇÕES DE ENFERMAGEM COMO ESTÍMULO A EXPRESSÃO DA SUBJETIVIDADE DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
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Autores
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Maria Joyce Tavares Alves (Relatora)
Gabrielle Mangueira Lacerda Janielle Tavares Alves José Augusto de Sousa Rodrigues Iluska Pinto da Costa |
Modalidade
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Comunicação coordenada
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Área
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Enfermagem em Saúde do Adulto e do Idoso
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INTRODUÇÃO
O envelhecimento no Brasil é considerado um processo complexo que merece uma abordagem ampla da sociedade. Levando-se em consideração a perspectiva demográfica relativa ao aumento no número de idosos, é possível perceber a significativa procura por alternativas de moradia como as instituições de longa permanência para idosos (ILPI) (DUARTE, 2014).
A institucionalização é de fato uma realidade cada vez mais presente para o idoso, por isso é importante enfatizar que existem fatores associados aos impactos causados pelas mudanças na vida dessas pessoas ao serem inseridas nesses ambientes. Segundo Caldas e Pamplona (2013) eles acabam se tornando cidadãos limitados em sua individualidade e subjetividade, não lhes sendo permitido o direito à privacidade, ao controle de sua própria vida, nem de seus pertences sociais, mantendo uma relação difícil ou inexistente com funcionários e o mundo exterior.
O trabalho na maioria das ILPIs é desenvolvido por meio de uma equipe multiprofissional, na qual o enfermeiro é responsável por funções de caráter assistencial e educativo, organizando o cuidado, desempenhando um trabalho fundamental para que essa assistência seja prestada de maneira eficaz e qualificada. (MEDEIROS et al., 2015).
A enfermagem pode possibilitar a sensibilização nos ambientes das ILPIs, procurando reestruturar as práticas de cuidados nestas instituições, voltando-as ao estímulo a expressão da subjetividade e atentar-se para melhorias na qualidade assistencial aos idosos institucionalizados (MEDEIROS et al., 2015).
Desse modo no cenário da ILPI, percebe-se que mesmo diante de suas diversas atribuições, o enfermeiro tem um papel essencial no sentido de incentivar a expressão da subjetividade por parte dos idosos, o que pode contribuir para a autonomia dos mesmos e para promoção de um envelhecimento mais ativo e com qualidade de vida.
OBJETIVO
Compreender como as ações dos profissionais de enfermagem podem estimular a expressão da subjetividade do idoso, proporcionando mais autonomia e melhoria na qualidade de vida do idoso institucionalizado.
MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, realizado em maio de 2017, desenvolvido a partir da experiência de atividades de educação em saúde vivenciadas em um projeto de extensão universitária nos anos de 2015 e 2016 com idosos institucionalizados.
O projeto de extensão foi desenvolvido por professores, alunos e profissionais colaboradores de diferentes áreas no âmbito da saúde. Desse modo, as práticas lúdicas utilizadas no decorrer do projeto foram planejadas e desenvolvidas a partir das especificidades dos idosos e realizadas semanalmente com os residentes em duas Instituições de Longa Permanência no município de Cajazeiras-PB.
RESULTADOS
Constatou-se ao longo do projeto de extensão que os idosos residentes em uma das ILPI’s não demonstraram motivação, nem desejos próprios. Sempre que eles eram questionados a respeito das suas atividades cotidianas, não se expressavam sobre o que gostariam de fazer, comer, ou mesmo conversar. Quando relatavam algo, era sempre relacionado à rotina da instituição e não ao que de fato desejavam. Desse modo, o processo de interiorização da rotina da instituição nos idosos tornou-se algo cada vez mais notório e a cada visita era possível identificar com maior clareza a necessidade de atividades capazes de estimular a subjetividade destes idosos.
Caldas e Pamplona (2013) explicam que em todas as fases de nossa existência, somos seres com uma grandeza interior infinita, possuímos conteúdos imensuráveis. Nossa essência comporta toda a nossa visão de si e do mundo, assim como a nossa relação com o outro. Quando é gerado o sentimento de não sentir-se completo em sua subjetividade, isso faz com que o idoso comece a distanciar-se do mundo, desprendendo-se de sua existência, de seu ser, de sua identidade.
Para possibilitar a visualização dessa necessidade do idoso por parte do enfermeiro, esse profissional precisa ampliar seu olhar sobre o paciente, vê-lo de maneira holística e como um ser social, esse é o primeiro passo para garantir uma assistência eficaz e de qualidade. Desse modo, quando o enfermeiro consegue perceber o idoso no contexto no qual está inserido, observando de forma mais abrangente as suas necessidades, torna-se possível o desenvolvimento de estratégias de cuidado para modificar uma realidade que está interferindo na subjetividade e consequentemente na qualidade de vida dessas pessoas.
No projeto, a equipe buscou trabalhar atividades lúdicas, o que proporcionou resultado satisfatório no que diz respeito ao contato profissional-idoso, facilitando desse modo a abordagem e a abertura dos idosos para falar de seus reais desejos. Ao descobrir a problemática evidenciada e a fragilidade do idoso diante dela, é possível que o profissional de enfermagem possa mostrar a esse idoso que ele possui capacidade de expor sua subjetividade, contribuindo assim com o seu processo de cuidado.
Para Santos et al. (2014) é fundamental que seja trabalhado junto aos idosos institucionalizados atividades recreativas e de socialização, considerando que envolto a essas práticas eles possuem uma maior predisposição de expressar sua subjetividade, expondo sua identidade e suas motivações.
Medeiros et al. (2015) comenta sobre a importância de se desenvolver ações para melhorar o processo de cuidado pela equipe de enfermagem nas ILPIs , desse modo os planos de cuidados poderiam proporcionar um melhor direcionamento diante dos processos de saúde nos idosos institucionalizados, estabelecendo estratégias para que o próprio profissional tenha como avaliar o cuidado prestado, intensificando dessa maneira a sua percepção no que se refere ao idoso. Para que isso aconteça o atendimento precisa ser de caráter integral, não pode estar centrado apenas em aspectos de ordem assistencialista.
Hoje, existem discussões que apontam a necessidade de atribuir a capacitação profissional para qualificação do cuidado à saúde da pessoa idosa. Sabendo disso, Padilha (2015) afirma que a Educação Permanente é uma importante ferramenta para os programas ligados ao envelhecimento no Brasil, por meio dela os idosos em instituições púbicas ou privadas podem ter acesso à saúde, a cultura, as atividades físicas, ao lazer, ao envolvimento e integração social, enfim, a muitas coisas que são deles por direito e que podem proporcionar uma melhor qualidade de vida, autonomia, e respeito de suas condições físicas e psíquicas.
Portanto, Medeiros et al. (2015) coloca como indispensável à qualidade de vida dessas pessoas, o envolvimento social e das políticas públicas que estão voltadas aos idosos residentes em ILPIs.
Durante o desenvolvimento das ações educativas, observou-se uma participação acentuada por parte dos idosos nas práticas lúdicas, eles apresentavam empolgação, conversavam muito, falavam sobre coisas que gostavam de fazer quando eram jovens e atividades que realizavam em suas casas antes da institucionalização. A maior parte dos idosos não comentavam muito sobre sua vida após mudar-se para a ILPI a não ser no que se refere às missas de domingo e a presença dos alunos extensionistas.
CONCLUSÃO
A avaliação da necessidade do idoso vai muito além da observação atenta de seu discurso, ela deve ser voltada também às expressões e comportamentos, partindo disso, o enfermeiro consegue perceber as necessidades presentes, trabalhar as necessidades específicas, podendo solucionar ou amenizar o efeito dessa inibição da singularidade no idoso.
Pode-se afirmar que as ações educativas do projeto de extensão conseguem muito mais que levar informação a população idosa institucionalizada, elas atentam para a subjetividade do indivíduo, respeitando e estimulando sua identidade, sua singularidade e autonomia.
Esse trabalho proporciona aos acadêmicos de enfermagem uma formação mais ampla, estimulando uma visão holística e singular do idoso, como sendo um ser inserido em um contexto sociocultural, com direito a expor sua subjetividade, assim como sua idealização própria de vida. Pode-se considerar que, além disso, as ações educativas também conseguem influenciar os profissionais das ILPIs a observar questões importantes que são esquecidas ou ignoradas em meio a rotina assistencialista do sistema institucional.
Descritores: Assistência; Educação em saúde; Idosos.
REFERÊNCIAS
BÚFALO, K. S. Aprender na terceira idade: educação permanente e velhice bem-sucedida como promoção da saúde mental do idoso. Revista Kairós Gerontologia, 2013.
CALDAS, C. P.; PAMPLONA, C. N. S. Institucionalização do idoso: percepção do ser numa óptica existencial. Revista Kairós Gerontologia, 2013.
DUARTE, L. M. N. O processo de institucionalização do idoso e as territorialidades: espaço como lugar? . Estudos interdisciplinares sobre o envelhecimento, 2014.
MEDEIROS, F. A. L. et al. O cuidar de pessoas idosas institucionalizadas na percepção da equipe de enfermagem. Revista Gaúcha de Enfermagem, 2015.
PADILHA, S. Envelhecimento e os programas de educação permanente no Brasil. Revista Portal de Divulgação, 2015.
SANTOS, A. C. C. et al. Estudo comparativo acerca da autoestima de idosos institucionalizados e não institucionalizados. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da UNIVAR, 2014.