Título
CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA NA PARAÍBA
Autores
Wagner Maciel Sarmento (Relator)
Gabriella Silva Nogueira
Lucelia Fernandes Diniz
Gerlane Cristinne Bertino Veras
Modalidade
Comunicação coordenada
Área
Enfermagem em Saúde Coletiva


INTRODUÇÃO
A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) é uma doença infecciosa, não contagiosa, causada por protozoários do gênero Leishmania, que provoca lesões na pele (classe cutânea) e mucosas (classe mucosa). A transmissão ocorre pela picada das fêmeas de flebotomíneos infectadas, conhecidas como mosquito-palha ou birigui (BRASIL, 2010).

No Brasil, a LTA é considerada um grave problema de saúde pública, visto ser uma das afecções dermatológicas de grande magnitude e de potencial risco de provocar deformidades. Encontra-se distribuída em todas as regiões brasileiras, podendo atingir ambos os sexos e todas as faixas etárias, entretanto, há predominância nos maiores de 10 anos (90%) e no sexo masculino (74%) (BRASIL, 2017). 

Nessa perspectiva, faz-se necessário que os profissionais tenham um conhecimento amplo sobre a LTA, inclusive quanto ao perfil epidemiológico, para que possam elaborar estratégias para prevenção, controle, diagnóstico e tratamento precoce.

OBJETIVOS
Identificar o perfil epidemiológico da Leishmaniose Tegumentar Americana.

METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, de base secundária e de abordagem quantitativa, realizado no mês de maio do corrente ano na base de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) disponíveis de forma online pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). A amostra constituiu-se das notificações de casos de Leishmaniose Tegumentar Americana no período de 2011 a 2015 na Paraíba, visto os dados de 2016 estarem incompletos no sistema.

Tabela 1 – Número de casos de LTA notificados no período de 2011-2015na Paraíba, 2017.
Ano     f (%)
2011    32 (11,9)
2012    74 (27,8)
2013    42 (15,8)
2014    33 (12,3)
2015    86 (32,2)

Observa-se na Tabela 1, uma variação anual no quantitativo de casos, que pode estar relacionado a fenômenos naturais e mudanças climáticas, como La Niña que tem como decorrência o aumento de chuvas e enchentes em algumas partes do País, o que contribui para o aumento da proliferação do flebotomíneo transmissor (CARDOSO et al., 2015).

Tabela 2 – Número de casos de LTA por sexo, faixa etária e raça, notificados no período de 2011-2015na Paraíba, 2017.
Variáveis         f (%)
Sexo
Masculino      153 (57,3)
Feminino     114 (42, 7)
Faixa etária
<1 Ano         9 (3,3)
1-4                 8 (2,3)
5-9               21 (7,9)
10-14       25 (9,3)
15-19       36 (13,4)
20-39       69 (25,9)
40-59       67 (25,0)
60-64        6 (2,2)
65-69        7 (2,7)
70-79        9 (3,3)
80 e +      10 (3,8)
Raça/cor
Ignorado/branco 25 (9,3)
Branca                50 (18,8)
Preta                        26 (9,8)
Amarela                 2 (0,8)
Parda              162 (60,7)
Indígena                 2 (0,8)

Quanto ao sexo, o estudo em tela corrobora com outros achados na literatura, como o de Figueira et al. (2014). De acordo com Cardoso et al. (2015), a população masculina apresenta-se mais exposta aos casos de LTA visto que passam mais tempo fora do ambiente doméstico em atividades laborais, muitas vezes em áreas de grande vegetação.

Em relação à faixa etária, os resultados concordam com o estudo de Cardoso et al. (2015), realizado no município de Augusto Corrêa, Pará entre 2007 a 2013, onde a faixa etária de maior frequência foi na população que se encontra incluída entre 11 e 34 anos. Contudo, vai de encontro com o estudo realizado por Murback et al. (2011), realizado no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian/UFMS referente ao período de 1998 a 2008 com 47 pacientes, sendo a faixa etária com maior número entre 45 a 59 anos.

Ao verificar a cor/raça, este estudo assemelha-se ao de Graziani et al. (2013), que mostra que o grupo dos indivíduos pardos foi o mais acometido, com 635 casos em 164 municípios do estado de Goiás. Em contrapartida, o estudo realizado por Piovesan (2012) mostra uma maior proporção na raça branca, com 41 casos, dos 83 registrados entre 2007-2010 no Mato Grosso do Sul. Segundo Cardoso et al. (2015), a relação entre a enfermidade e etnia é próprio de cada região, pois depende de vários fatores culturais, históricos e biológicos, como a herança genética de cada grupo populacional e o alto nível de miscigenação do país, o que pode explicar a diferença de acometimento entre as raças em cada região. Além disso, esta variável é autodeclarada, onde ressalta-se sua  subjetividade.

Tabela 3 – Número de casos de leishmaniose tegumentar americana notificados na Paraíba no período de 2011-2015 segundo forma clinica, 2017.

Forma clínica  f (%)
Cutânea        244 (91,3)
Mucosa         23 ( 8,7)

Os dados da Tabela 3 corroboram com a pesquisa de Brito et al. (2015), realizada com pacientes atendidos no Instituto Lauro de Souza Lima em Bauru, onde a forma cutânea foi observada em 76% dos casos e a forma mucosa em 23,5%. Segundo Murback et al. (2011) a forma cutânea apresentou-se em 68,1% dos 47 pacientes atendidos no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian/UFMS entre 1998 a 2008. 

CONCLUSÃO:
Pode-se verificar uma alta incidência de casos de LTA na Paraíba, principalmente nos adultos do sexo masculino, de cor/raça parda e notificados como caso de classe cutânea. 

O conhecimento do perfil epidemiológico faz-se relevante a medida que busca contribuir para atividades de informação sanitária importantes para a criação de estratégias e políticas de saúde que visem o controle e prevenção dessa zoonose, assim como adoção de medidas para diagnóstico e tratamento precoce.

Dessa forma, sugere-se que gestores e profissionais de saúde realizem um estudo sobre o perfil epidemiológico das áreas aonde exercem suas atividades laborais e a participação em capacitações, possibilitando-os a atuarem de forma efetiva e eficaz frente à LTA e com isso promover a melhoria da qualidade de vida da comunidade.  

Descritores: Leishmaniose, Saúde Pública, Zoonoses, Perfil de Saúde.

REFERÊNCIAS 
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de vigilância da Leishmaniose Tegumentar Americana. Brasília, DF, 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Manual de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar Americana. Brasília, DF, 2017.
BRITO, F. F; PINTO, A.C.V.D; LAMENHA, M. L; CAVALCANTE, L; SILVA, G. V; WACHHOLZ, P. A; NASCIMENTO, D. C. Estudo clínico, epidemiológico e imunológico para Leishmaniose tegumentar americana em centro de referencia em dermatologia. Hansen Int 2015; 40 (1):17-24. 
CARDOSO, R.F; MELO B.G; PEREIRA, W.M.M; PALÁCIOS, V.R.C.M, BARBOSA, A.V; GONÇALVES, N. V. Estudo socioepidemiológico e espacial da Leishmaniose Tegumentar Americana em município do Pará. Revista Paraense de Medicina V.29(3) julho-setembro 2015. 
FIGUEIRA, L.P; SOARES, F. V; NAIFF, M.F; SILVA, S.S; ESPIR, T.T; PINHEIRO F. G. E FRANCO A. M.R. Distribuição de casos de Leishmaniose Tegumentar no município de Rio Preto da Eva, Amazonas, Brasil. Rev Patol Trop Vol. 43 (2): 173-181. abr.-jun. 2014. 
GRAZIANI, D; OLIVEIRA V. A. C; SILVA, R.C. Estudo das características epidemiológicas da Leishmaniose Tegumentar Americana no estado de Goiás, Brasil, 2007-2009. Rev Patol Trop Vol. 42 (4): 417-424. out.-dez. 2013. 
MURBACK, N.D.N; HANS FILHO, G; NASCIMENTO, R.A.F; NAKAZATO K.R.O; DORVAL M.E.M.C. Leishmaniose tegumentar americana: estudo clínico, epidemiológico e laboratorial realizado no Hospital Universitário de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil. An Bras Dermatol. 2011;86(1):55-63. 
PIOVESAN, A. Epidemiologia da Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) no estado do Mato Grosso do Sul no período de 2001 a 2010. [Dissertação – Mestrado]. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, 2012.