Título
CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DO ENFERMEIRO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM
Autores
Graziele Paiva Dantas (Relatora)
Maria Edwiges Gomes Ribeiro
Ozaniely Linhares de Freitas
Reinaldo de Holanda Gonçalves
Ana Cláudia Martins Rodrigues
Cecilia Danielle Bezerra Oliveira
Modalidade
Comunicação coordenada
Área
Enfermagem em Saúde Coletiva

INTRODUÇÃO
A enfermagem é uma profissão que possui categorias de nível superior, técnico e auxiliar, respaldados legalmente para exercerem a profissão. Ao enfermeiro cabe a supervisão e direção dos serviços de enfermagem, e com essa divisão de funções o estabelecimento de uma identidade é dificultado (PIMENTA; SOUZA, 2017).

A construção da identidade profissional do enfermeiro é repleta de conflitos e contradições, em que muitas vezes a atuação do enfermeiro entra em divergência com o saber que está presente na academia de ensino e o que é idealizado tornando frustrante a prática do trabalho, diversas características como saber em enfermagem, conduta ética e moral, jornada de trabalho, tipo de serviço, até o próprio reconhecimento da enfermagem de uma identidade (NETTO; RAMOS, 2002). 

Ressalta-se também a relação do enfermeiro consigo mesmo, em se dedicar a profissão e se afirmar como tal, assim como a proximidade com a clientela, através dos reconhecimentos e julgamentos os quais são expostos, o que acaba por definir o “ser enfermeiro” é seu tempo de experiência em seu cotidiano, uma junção do ser com as suas percepções, expressões e saberes (NETTO; RAMOS, 2004). 

O enfermeiro da atenção primária possui uma autonomia diferenciada, o que muitas vezes o deixa sobrecarregado em seu serviço, tendo que dividir seu tempo de trabalho nos setores burocráticos sem deixar em segundo plano os assistenciais, o que evidencia a influencia do serviço na construção de uma identidade própria.

OBJETIVOS
Relatar a percepção de acadêmicos de enfermagem acerca da construção identitária do enfermeiro na Atenção Primária através da experiência no Estágio Supervisionado I.

MÉTODOS
Trata-se de um estudo do tipo relato de experiência, com abordagem exploratória, realizado por acadêmicos do curso de enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande no Estagio Supervisionado I. O estudo apresentou uma população de enfermeiros pertencentes a Estratégias de Saúde da Família (ESF) do município de Cajazeiras, PB.

Foi vivenciada a experiência no serviço durante o período do mês de novembro de 2016 a abril de 2017, perpassando por diversas situações de atuação da enfermagem na atenção primária, tendo o contato próximo com o enfermeiro responsável por cada ESF. Para a fundamentação do trabalho foram utilizados artigos encontrados na base de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO) através dos descritores disponíveis no DeCS (Descritores em Ciências da Saúde).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Desde o inicio do estágio supervisionado I adquirimos conhecimentos através da realidade apresentada, o fato da atenção primária permitir uma maior interação com os atores sociais e suas realidades a conduta torna-se diferenciada, permitindo um leque de ações de intervenções para com a comunidade (BRASIL, 2012).

Durante a vivência do estágio foi possível presenciar diversas atuações do serviço de enfermagem, envolvendo ações educativas, planejamento e gerenciamento do serviço, estabelecimento de normas, gerenciamento de conflitos, tanto relacionado à própria equipe quanto equipe e comunidade. Com a mudança de gestão do município os enfermeiros muitas vezes tinham que se ausentar do serviço para assumir e resolver uma responsabilidade burocrática na secretaria de saúde, que fugia de seu campo de atuação, que poderia ser resolvido por uma pessoa responsável para tal conduta.

A falta de profissionais na ESF também dificulta bastante a atuação do enfermeiro, muitas vezes ao invés de estar prestando a assistência, que é sua função, acaba por deixá-la em segundo plano para assumir mais um cargo de responsabilidade. Situações desse tipo que acabam por não deixar com que o enfermeiro estabeleça sua identidade própria. 

Devido a ESF permitir o contato direto com a comunidade, os julgamentos de valores ocorrem de maneira cotidiana. O enfermeiro por ser responsável pelo serviço recebe todas as criticas e julgamentos, o que acaba por desmotivar o profissional, o qual muitas vezes não recebe nenhum reconhecimento. 

Várias vezes foi possível observar a tentativa de implementação de uma conduta pelo enfermeiro ser impedida por profissionais mais antigos no serviço, dispondo argumentos desestimuladores e fortalecendo aquele pensamento que o enfermeiro deve somente estar na sua sala, realizando suas consultas, ou no ambulatório realizando procedimentos técnicos para alimentar sua produção no final do mês. 

É muito visto pela comunidade e até mesmo pela própria equipe que a enfermagem é somente a prática, que não possui todo o saber e respaldo cientifico. Portanto, é preciso ressaltar que o enfermeiro é um pesquisador que pode e deve estar sempre se atualizando, que deve também ter o conhecimento da causa, do meio, complicações e resultados de cada conduta realizada, como disposto na Resolução COFEN 311/2007 e não somente reproduzir uma técnica, se ocorresse dessa forma toda e qualquer pessoa poderia exercer tal profissão.

Observou-se com a vivência que a construção identitária do enfermeiro é uma conquista diária, onde o respeito e reconhecimento da comunidade e equipe são adquiridos com o tempo de atuação, que o enfermeiro para conseguir pontos favoráveis para essa construção deve se renovar a cada dia, sendo e mostrando o que a enfermagem realmente é. Ao final da experiência foi possível observar uma mudança na conduta da comunidade, com um maior reconhecimento do enfermeiro e até mesmo de nós como estagiários. 

CONCLUSÃO
O período de vivência do estágio supervisionado I foi muito enriquecedor, foi possível observar de perto as situações que a enfermagem enfrenta diariamente, nos permitindo um saber que jamais teríamos adquirido somente na sala de aula.

Destaca-se que a maneira como os profissionais foram se articulando para um maior reconhecimento da enfermagem ocorreu de forma admirável, e que levaremos como exemplo para nossas vidas profissionais na execução de uma enfermagem diferenciada e que mereça o reconhecimento da população.

Contudo, vê-se ainda que a identidade própria do enfermeiro está em constante construção, e que necessita de uma atenção maior dos serviços que dispõe de profissionais de enfermagem, assim como os próprios profissionais, em se identificarem na classe e saber representa-la com sabedoria. 

Descritores: Enfermagem; Cuidados de enfermagem; Atenção Primária a Saúde.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da saúde Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Ministério da saúde, 2012. Disponível em:< http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/pnab.pdf > Acessado em: 22/05/2017.
MATUMOTO, S. FORTUNA, CM. KAWATA, L.S. MISHIMA, S.M. PEREIRA, M.J.B. A prática clínica do enfermeiro na atenção básica: um processo em construção. Revista Latino Americana de Enfermagem. 2011. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/rlae/v19n1/pt_17.pdf > Acessado em: 22/05/2017.
COFEN. Resolução 311/2007. Conselho Federal de Enfermagem – COFEN. 2007. Disponível em:< http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3112007_4345.html> Acessado em: 24/05/2017.
NETTO, L.F.S.A. RAMOS, F.R.S. Para compreender a identidade do enfermeiro: situando o objeto na produção científica da enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem. Volume 55, Nº. 5. Brasília, 2002. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/reben/v55n5/v55n5a16.pdf> Acessado em: 22/05/2017.
______________. Considerações sobre o processo de construção da identidade do enfermeiro no cotidiano de trabalho. Revista Latino Americana de Enfermagem. 2004. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/rlae/v12n1/v12n1a08.pdf> Acessado em: 22/05/2017.
OGUISSO, T. FREITAS, G.F. Cuidado – essência da identidade profissional de Enfermagem. Revista Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo-USP. 2016. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v50n2/pt_0080-6234-reeusp-50-02-0188.pdf> Acessado em: 21/05/2017.
PIMENTA, A.L. SOUZA, M.L. Identidade profissional da enfermagem nos textos publicados na REBEN. Texto Contexto Enfermagem. 2017. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/tce/v26n1/pt_0104-0707-tce-26-01-4370015.pdf> Acessado em: 22/05/2017