Título
HANSENÍASE COMO PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA: AVALIAÇÃO DA TAXA DE DETECÇÃO ANUAL DE CASOS NOVOS
Autores
Bruno Neves da Silva (Relator)
Maísa Galdino Pereira
Fabrícia Cristina Vidal Silva
Paloma Karen Holanda Brito
Letícia de Sousa Eduardo
Gerlane Cristinne Bertino Véras
Modalidade
Comunicação coordenada
Área
Enfermagem em Saúde Coletiva

INTRODUÇÃO
A hanseníase é uma doença crônica e infectocontagiosa ocasionada pela bactéria Mycobacterium leprae. Constituindo-se de uma doença de notificação compulsória e investigação obrigatória. O caso de hanseníase é definido quando um indivíduo apresenta um ou mais dos sinais cardinais: lesão e/ou área da pele com alteração de sensibilidade térmica e/ou tátil e/ou dolorosa; espessamento de nervo periférico, com associação de alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas; ou presença do bacilo no exame baciloscópico ou em biópsia de pele. É considerado caso novo o indivíduo diagnosticado que nunca recebeu qualquer tratamento específico para a doença (BRASIL, 2016).

Atualmente, o Brasil encontra-se na segunda colocação em registro de casos de hanseníase entre os países do mundo, estando atrás apenas da Índia. A maior detecção de casos é observada em Estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (OLIVEIRA; LEÃO; BRITO, 2014). A região Nordeste, de acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), possui o maior número de casos registrados de hanseníase no Brasil desde o ano de 2001.

De acordo com Brito et al. (2015), o Estado da Paraíba constitui uma das áreas de concentração da doença (cluster), cuja maior endemicidade situa-se sobretudo na mesorregião do sertão paraibano, à qual pertence a microrregião de Cajazeiras. O município é apontado por Simpson, Fonsêca e Santos (2010), como um dos que apresentam maior incidência no Estado.

OBJETIVOS
Avaliar os coeficientes de detecção dos casos novos como indicador de eliminação da hanseníase como problema de saúde pública.

MÉTODO
Trata-se de um estudo epidemiológico retrospectivo, de caráter descritivo e abordagem quantitativa. A pesquisa foi realizada em maio de 2017 utilizando-se os coeficientes de detecção de casos novos de hanseníase no período de 2001 a 2015 do município de Cajazeiras, Paraíba, que encontram-se no SINAN, disponíveis de forma online pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).

Para o tratamento dos dados utilizou-se métodos estatísticos descritivos. Esta pesquisa foi guiada pela resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Verificou-se elevadas taxas de detecção de casos novos em todo o período analisado. Todos os anos observados mostraram valores de taxa de detecção acima de 40/100.000 habitantes, com exceção de 2014, cuja detecção foi de 32,77/100.000 habitantes. A maior taxa detectada ocorreu no ano de 2005, quando o município registrou 186,39/100.000 habitantes.

Esses dados demonstram uma situação epidemiológica grave, visto a implantação de serviços e ações de eliminação da hanseníase como problema de saúde pública no Brasil e no mundo. De acordo com os indicadores de monitoramento e progresso da eliminação da hanseníase enquanto problema de saúde pública, uma detecção de casos novos situada entre 20,00 e 39,99/100.000 habitantes é considerado um padrão muito alto de detecção; já quando esta encontra-se acima de 40,0/100.000 habitantes, o território é caracterizado como hiperendêmico para a doença (BRASIL, 2016). No caso do município estudado, os dados analisados revelam um quadro duradouro de hiperendemicidade, com exceção de 2014, que, ainda assim, apresentou padrões considerados muitos elevados de detecção.

O conhecimento da taxa de detecção de hanseníase possibilita a criação de um suporte para que os serviços de saúde incorporem estratégias com vistas ao desenvolvimento de ações programáticas no processo de diagnóstico precoce dos casos novos, e tratamento e acompanhamento das pessoas e famílias afetadas pela doença (SILVA SOBRINHO; MATHIAS, 2008). 

A alta incidência da patologia em tela, está relacionada a diversos fatores. Silva (2010), por exemplo, relaciona-a ao baixo desenvolvimento socioeconômico da população afetada. Já Ximenes et al. (2013), destacam que a carência dos serviços de saúde para diagnóstico precoce, tratamento e acompanhamento dos casos também encontram-se implicados na incidência. Para Vieira et al. (2014), o baixo investimento em medidas preventivas, isolamento geográfico e dependência da população a serviços e informações acerca da doença, que são geralmente insuficientes, reverberam na capacidade da população de melhorar por si suas condições de saúde. Os fatores climáticos como a presença de temperaturas elevadas também são apontados como predisponentes da doença (PEREIRA et al., 2011).

Os principais instrumentos para diagnosticar a hanseníase são, conforme Miranzi, Pereira e Nunes (2010), os exames de contatos e de coletividades, pois auxiliam a diagnosticar precocemente os casos, contribuindo para a diminuição da ocultação destes e das incapacidades físicas decorrentes da doença. 

Neste estudo, verificou-se que a maioria (88,25%) dos casos de hanseníase foram detectados por meio passivo (encaminhamento e demanda espontânea). O exame de contatos e de coletividade, que constituem os meios ativos de detecção corresponderam a apenas 2,61% e 7,17% desta, respectivamente. Casos ignorados e com outros modos de detecção somaram um percentual 1,95%. A baixa realização de exames de contatos pode significar negligência e/ou passividade do serviço de saúde ofertado, relacionado ao investimento reduzido por parte das equipes de Saúde da Família na realização de busca ativa de casos (BRITO et al., 2016).

CONCLUSÃO
Constata-se que o município de Cajazeiras ainda encontra-se hiperendêmico para hanseníase, evidenciando a grave situação epidemiológica, visto almejar-se a eliminar da doença como problema de saúde pública. A alta incidência pode relacionar-se à dificuldade de diagnóstico precoce, sendo assim necessário a capacitação profissional para facilitar esse processo, o fortalecimento de busca ativa para identificação dos casos novos e tratamento dos já existentes, bem como a realização, por parte de uma equipe multiprofissional de ações voltadas à promoção da saúde comunitária.

A formação de vínculo entre profissionais e usuários para que o cuidado seja prestado de forma longitudinal também se faz de suma importância nesse processo, visto as múltiplas dimensões individuais que a hanseníase pode acometer, podendo o enfermeiro, nesse contexto, sobressair-se como um ator em potencial, visto o seu contato com a comunidade.
Descritores: Hanseníase; Incidência; Saúde Pública.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da Hanseníase como problema de saúde pública: manual técnico-operacional.  Brasília: Ministério da Saúde, 2016. Disponível em <www.saude.gov.br/svs>. Acesso em 21 mai. 2017.
BRITO, K.K.G et al. Análise epidemiológica da hanseníase em um estado endêmico do nordeste brasileiro. Revista Gaúcha de Enfermagem. v. 36, p. 24-30, 2015.
BRITO, K.K.G et al. Caracterização dos casos de hanseníase diagnosticados através do exame de contato. Revista de enfermagem UFPE online. v. 10 n. 2, p. 435-441, 2016.
OLIVEIRA, J.C.F.; LEÃO, A.M.M.; BRITTO, F.V.S. Análise do perfil epidemiológico da hanseníase em Maricá, Rio de Janeiro: uma contribuição da enfermagem. Revista de enfermagem da UERJ. Rio de Janeiro, v. 22, n. 6, p. 815-21, 2014.
PEREIRA, E.V.E. et al. Perfil epidemiológico da hanseníase no município de Teresina, no período de 2001-2008. An. Bras. Dermatol. v. 86, n. 2, p. 235-240, 2011 .
SILVA, D.R.X. et al. Hanseníase, condições sociais e desmatamento na Amazônia brasileira. Rev Panam Salud Publica. v. 27, n. 4, 2010.
SIMPSON, C.A.; FONSÊCA, L.C.T.; SANTOS, V.R.C. Perfil do doente de hanseníase no estado da Paraíba. Hansenol. int. v. 35, n. 2, 2010.
SILVA SOBRINHO, R.A.; MATHIAS, T.A.F. Perspectivas de eliminação da hanseníase como problema de saúde pública no Estado do Paraná, Brasil. Cad. Saúde Pública. v. 24, n. 2, p. 303-314, 2008.
VIEIRA, G.D. et al. Hanseníase em Rondônia: incidência e características dos casos notificados, 2001 a 2012. Epidemiol. Serv. Saúde. v. 23, n. 2, p. 269-275, 2014.
XIMENES, F.R.G. et al. Epidemiologia da hanseníase no município de Cariré - ceará, 2001 a 2010. Revista Eletrônica Gestão & Saúde. v. 4, n. 3, p. 829-842, 2013.