Título
DISCURSOS DOS PORTADORES DE TUBERCULOSE PULMONAR SOBRE A ABORDAGEM DA DOENÇA PELOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Autores
Maria Sandra Beserra do Nascimento (Relatora)
Rubens Felix de Lima
Maria Mônica Paulino do Nascimento
Modalidade
Comunicação coordenada
Área
Enfermagem em Saúde Coletiva

INTRODUÇÃO 
Apesar de milenar, a tuberculose (TB) se mantém como um dos males da humanidade no século XXI. A literatura explana que as pessoas que foram infectadas pela TB muitas vezes sentem vergonha de sua situação e se esforçam para evitar que sejam identificadas como tuberculosas e é notório ainda que a estigmatização do doente de TB por vezes envolve o próprio profissional que estabelece o tratamento a esses pacientes (SOUZA, 2010).

Silva (2009) enfatiza que muitos portadores dessa doença não recebem a atenção esperada dos profissionais que os tratam, expondo, através de relatos desses portadores, que médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde evitam conversas e contato com esses pacientes, devido a uma mescla de medo e preconceito, e muitas vezes por desconhecerem os mecanismos da TB. Sendo assim, justifica-se a realização deste estudo para conhecer os discursos dos portadores de tuberculose pulmonar sobre a abordagem da doença pelos profissionais de saúde na revelação do diagnóstico.

OBJETIVO
Conhecer os discursos dos portadores de tuberculose pulmonar sobre a abordagem da doença pelos profissionais de saúde na revelação do diagnóstico. 

MÉTODO
Trata-se de um estudo de campo exploratório-descritivo com abordagem qualitativa, fruto de um recorte da pesquisa intitulada: Consequências Sociais existentes em portadores de Tuberculose Pulmonar usuários da Estratégia de Saúde da Família do município de Cajazeiras, realizado no ano de 2012.

Os sujeitos participantes foram 8 indivíduos  que se concentravam 6 Unidades de Saúde da Família (USF) urbanas existentes no município com diagnóstico de tuberculose pulmonar em tratamento na época da realização da pesquisa cujos casos foram notificados no Sistema de Notificação de Agravos Notificáveis (SINAN), com idade maior ou igual a 18 anos, lúcidos e capazes de compreender o conteúdo da pesquisa. 

Para a coleta foi realizada um entrevista semiestruturada com estes pacientes e os dados norteadores do estudo foram analisados qualitativamente, utilizando a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Alcides Carneiro da Universidade Federal de Campina Grande, Protocolo nº 159.868, sendo respeitadas as diretrizes da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012).

RESULTADOS 
Quando indagados com a pergunta norteadora: O que lhe foi dito sobre a doença na ocasião do diagnóstico? Surgiu a Ideia Central 1 (IC1): “Seguir o tratamento preconizado” e  o Discurso do Sujeito Coletivo1 (DSC1): Disse que tinha cura, que tinha que iniciar o tratamento e que a duração do tratamento era de seis meses [...] que eu tomasse o medicamento corretamente [...] disse pra eu tomar esse comprimido em jejum, todo dia, não falhar não![...] disse pra eu começar a tomar esse medicamento [...] me explicou que a tuberculose tinha cura se eu seguisse direitinho o tratamento [...] disse que o tratamento é de seis meses com medicação tomada certa. 

Também referente a este questionamento surgiu a Ideia Central 2 (IC2) “Mudar o estilo de vida” e o Discurso do Sujeito Coletivo 2 (DSC2): Disse que eu não fumasse, não bebesse, não ficasse na poeira, nem no sol quente [...] disse que eu evitasse poeira, água quente [...] disse pra manter repouso [...] disse que eu não podia bebê, pra poder ficar bom e todo mês tinha que fazê exame pra sabê se a bactéria vai acabando.

Através dos discursos expostos acima se percebe que o que é informado ao portador no momento do diagnóstico limita-se ao tratamento preconizado. Sendo assim, fica evidente a preocupação reducionista dos profissionais que fornecem tal diagnóstico, observando somente a doença. Oliveira; Lefèvre (2012) em estudo realizado com profissionais de saúde envolvidos com a revelação do diagnóstico de TB em unidades de saúde do município de São Paulo,explicitaram que diante do complexo quadro atual, os problemas de saúde já não podem mais ser solucionados com medidas pontuais, como por exemplo, a medicalização pura, sem nenhuma outra intervenção, sendo necessário adotar, igualmente, complexas formas de atuação. 

Deste modo, atender às necessidades das pessoas ultrapassa o aspecto biológico das mesmas, pois atender o portador de TB considerando-o dentro de um contexto de vida cria um espaço de interlocução entre o paciente e o profissional de saúde, espaço este que promove as bases que determinarão a adesão no tratamento, pois a comunicação frágil entre profissional e paciente, propicia em muitos casos o abandono do tratamento, pois antes o paciente foi abandonado pelo serviço de saúde, ao não considerá-lo de forma holístico (OLIVEIRA; LEFÈVRE, 2012).

Paz; Sá (2009) em estudo sobre o cotidiano do tratamento a portadores de tuberculose em unidades básicas de saúde, alerta que quando os usuários recebem o diagnóstico de que estão com TB, uma tragédia se abate sobre suas vidas, pois a doença toma a dimensão de castigo social. Corroborando Oliveira; Lefèvre (2012) enfatizam que o diagnóstico de TB é um momento que se diferencia de qualquer outro (marcação de consulta, primeira consulta, coleta de exame, etc.), pois é onde uma “verdade” aparece. A verdade de se ter uma doença que pode levar à morte.

À medida que os profissionais que atuam no Programa de Controle da Tuberculose conhecem os sentimentos de aflição que acompanham o momento do diagnóstico, esta ocasião requer dos profissionais o fornecimento de toda informação possível através de uma terminologia adequada, através de atitudes sensíveis, delicadas e respeitosas, relativa ao momento em que se confirma a tuberculose e se espera a adesão ao tratamento, ouvindo o usuário com atenção, e provendo esperança ao mesmo (PAZ; SÁ, 2009).

Os discursos demonstram ainda que o alvo das orientações engloba a exigência de mudança no estilo de vida envolvendo abandono de vícios como o tabagismo e o alcoolismo e outras práticas do cotidiano destes indivíduos, e assim os discurso encontra-se repleto de recomendações, muitas vezes, que não tem fundamentação científica, mas estão presentes nas ideias do senso comum que envolvem a TB (evitar poeira; evitar pegar sol no horário mais quente do dia; evitar água quente). Neste panorama as condições informadas pelo profissional para que o tratamento da TB seja eficaz evidenciam conflitos entre profissional de saúde e paciente.

Lefèvre; Lefèvre, (2009) ponderam que o profissional de saúde é aquele com poder para conduzir o processo de cura e o paciente é aquele onde o processo saúde/doença está ocorrendo. No entanto, não se pode esquecer que o paciente além de proprietário do corpo, também é proprietário de vontade, livre para colaborar, duvidar, discordar, impedir, ou negar. Nesta perspectiva, Rocha; Adorno (2012) afirmam que os portadores de TB que consomem álcool podem se sentir constrangidos em assumirem este consumo, principalmente diante de um profissional de saúde, pois creem que terão seu comportamento reprovado e receberão, talvez, lições que são tidas como “de moral”, intensificando assim a discriminação de grupos sociais como usuários de álcool e drogas.

CONCLUSÃO
Constatou-se através dos resultados deste estudo, que o enfoque biomédico da TB e sua simples medicalização, prevalecem como formas de cuidado a estes pacientes, realizados pelos profissionais que estão à frente do tratamento da tuberculose. E neste aspecto cabe um alerta para que sejam trabalhadas formas de atender as necessidades dos clientes com TB, associando o tratamento diretamente observado, a formas que legitimem também o saber do usuário, trazendo-o para junto do tratamento.

Descritores: Tuberculose; Relações Profissional-Paciente; Medicalização. 

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde: Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº. 466 de 12 de dezembro de 2012. Trata da Pesquisa Envolvendo Seres Humanos. Brasília, 2012. Disponível em:< http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf> Acesso em: 12 out.2013.
LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, A. M. Discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (desdobramentos). Caxias do Sul: Educs, 2005.
________. O corpo e seus senhores: homem, mercado e ciência: sujeitos em disputa pela posse do corpo e mente humana. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2009.
PAZ, E. P.A.; SÁ, A.M.M.. Cotidiano do tratamento a pessoas doentes de tuberculose em unidades básicas de saúde: uma abordagem fenomenológica, Revista Latino-Americana de Enfermagem  ,v.17, n.2, mar-abr. 2009.
OLIVEIRA; R.A.; LEFÈVRE; F. Representações sociais sobre a revelação do diagnóstico da tuberculose e suas relações com a adesão ao tratamento. RECIIS, Rio de Janeiro, v.6, n.1, p. 83-88, mar. 2012.
ROCHA, D.S.; ADORNO, R.C.F. Abandono ou descontinuidade do tratamento da tuberculose em rio branco, Acre, Saúde Sociedade. São Paulo, v.21, n.1, p.232-245.2012
SILVA, A. C. A. Dores do corpo e dores da alma: o estigma da tuberculose entre homens e mulheres acometidos. 2009. Tese (Doutorado em Educação)-Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, campinas, 2009. 
SOUZA, K. M. J. et al. Abandono do tratamento de tuberculose e relações de vínculo com a equipe de saúde da família. Rev. Esc. Enferm. USP, São Paulo, v. 44, n. 4, p.904-11, 2010. Disponível em:<http/www.ee.usp.br/reeusp/>. Acesso em: 09 out. 2011.