Título
CONCEPÇÃO DOS PORTADORES DE TUBERCULOSE PULMONAR SOBRE O ATENDIMENTO E O ACOMPANHAMENTO DOS ENFERMEIROS
Autores
Rubens Felix de Lima (Relator)
Maria Sandra Beserra do Nascimento
Maria Mônica Paulino do Nascimento
Modalidade
Comunicação coordenada
Área
Enfermagem em Saúde Coletiva


INTRODUÇÃO 
O Programa de Controle da Tuberculose (PCT) quando da descentralização de suas ações foi incluído na Estratégia Saúde da Família (ESF) (PEQUENO, 2011). No PCT, o papel do enfermeiro, abrange desde o desenho das políticas públicas, com base em estudos epidemiológicos, mediante a implementação de programas multissetoriais, até a assistência direta e a educação dos usuários no plano operativo (OBLITAS et al., 2010). 

Segundo Souza et al. (2010) vem sendo pouco estudada em nossa realidade, a  participação da enfermagem nas práticas de cuidado usadas no enfrentamento da tuberculose. Sendo assim justifica-se a realização deste estudo para identificar a concepção dos portadores de tuberculose pulmonar em tratamento na Estratégia de Saúde da Família sobre o atendimento e o acompanhamento dos enfermeiros, tendo em vista que fragilidades na produção do cuidado ao doente de TB e a pouca produção de acolhimento, têm contribuído para a ocorrência da interrupção e abandono do tratamento dessa doença. 

OBJETIVO
Identificar a concepção dos portadores de tuberculose pulmonar em tratamento na Estratégia de Saúde da Família sobre o atendimento e o acompanhamento dos enfermeiros. 

MÉTODO
Trata-se de um estudo de campo exploratório-descritivo com abordagem qualitativa, fruto de um recorte da pesquisa intitulada: Consequências Sociais existentes em portadores de Tuberculose Pulmonar usuários da Estratégia de Saúde da Família do município de Cajazeiras, realizado no ano de 2012.

Os sujeitos participantes foram 8 indivíduos  que se concentravam 6 Unidades de Saúde da Família (USF) urbanas existentes no município com diagnóstico de tuberculose pulmonar em tratamento na época da realização da pesquisa cujos casos foram notificados no Sistema de Notificação de Agravos Notificáveis (SINAN), com idade maior ou igual a 18 anos, lúcidos e capazes de compreender o conteúdo da pesquisa. 

Para a coleta foi realizada um entrevista semiestruturada com estes pacientes e os dados norteadores do estudo foram analisados qualitativamente, utilizando a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Alcides Carneiro da Universidade Federal de Campina Grande, Protocolo nº 159.868, sendo respeitadas as diretrizes da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012)

RESULTADOS 
Quando indagados sobre como avaliam o atendimento e o acompanhamento do profissional enfermeiro da USF para a eficácia do tratamento da tuberculose, foi detectado a ideia central (IC) “Correto” e o seguinte Discurso do Sujeito Coletivo(DSC): O atendimento é rápido, ela me dá o remédio, eu tomo os comprimidos e depois não tem mais nada pra fazer, o atendimento dela tá correto, ela sempre me atendeu direito, quando chego lá ela pega logo os comprimidos e depois eu tô liberado!Assino os papeis e pronto! [...] dizê o que é a enfermeira me atende legal, me atende direito, me entrega os comprimido certo tudo, isso é o mais importante! 

Através do DSC percebe-se que os sujeitos portadores de TB avaliam o atendimento e o acompanhamento do profissional enfermeiro da USF do qual é usuário como correto na medida em que colabora para a eficácia do tratamento da tuberculose, através da entrega dos medicamentos para a tuberculose.

Esta visão de que o cuidado a saúde se restringe a entrega de medicamentos é típico da influência do modelo biomédico o qual impera nos serviços de saúde levando o próprio cliente destes serviços a incorporar este pensamento mecanicista e reproduzi-lo, validando-o como o tratamento eficaz aquele, ou seja, o que é mais adequado para livrar-lhe rapidamente do martírio que é a tuberculose. O que representa uma dicotomia entre o que é preconizado para a assistência destes na Estratégia Saúde da Família.

Nesta ótica, a explicação para tal postura de medicalização do enfermeiro pode ser compreendida pelo cotidiano assistencial que impõe a dinâmica mecanizada e muitas vezes irrefletida, que não favorece a troca de subjetividade entre quem cuida e quem recebe ou precisa de cuidado. Nos turnos de trabalho ambulatoriais, dentre eles a ESF há pouco tempo para que se responda às demandas individuais, porque são muitas as atividades que devem ser executadas pelos profissionais, o que os afasta do atendimento singular a cada doente e reforça a primazia da normatização técnica (PAZ; SÁ, 2009).

Nota-se que a preocupação com o restabelecimento da saúde é comum para doentes e profissionais, mas o sentido dessa preocupação tem caráter distinto para ambos. Para o doente, o tratamento é o horizonte de recuperação de um cotidiano alterado e, para alcançá-lo, segue as recomendações até o limite do possível, entendendo como única coisa a esperar deste serviço a entrega dos medicamentos, não vendo como necessária a exploração de suas demandas psicossociais, pois estes também acabam internalizando o discurso biomédico para o seu tratamento (HINO et al., 2012).

As falas expostas no DSC convergem para o que foi detectado em vários estudos, a exemplo, o realizado por Sá et al. (2010) onde também foi observada restrição da comunicação aos aspectos biomédicos da TB nos ambulatórios, contribuindo significativamente para uma relação impessoal, sem diálogos, escutas, responsabilização, subjetividades, dificultando o estabelecimento do vínculo, e assim a adesão ao tratamento. 

Estes autores entendem a relação de vínculo como uma relação pautada na compreensão, consistindo em dar apoio e oferecer escuta, narrar fatos e provocar a narração por parte do outro, contribuindo, fortemente, para a continuidade da atenção à TB, ao enfocar que todos os fatores que obstaculizam a continuidade terapêutica, de ordem biológica, psicológica ou social que, por ventura, se apresentam no longo trajeto do tratamento, serão mais facilmente expostos pelo doente quando socialmente aceitos e escutados pela equipe.    

Trigueiro et al. (2009) apontam para a necessidade de ações educativas como caminho para a prevenção e controle da TB e para que o tratamento atinja com sucesso a completude do indivíduo, considerando os participantes como portadores de saberes que contribuirão na reformulação de políticas públicas eficazes e voltadas para as reais necessidades da população atingida pela tuberculose.

CONCLUSÃO
Constatou-se através dos resultados deste estudo, que o enfoque biomédico da TB e sua simples medicalização, prevalecem como formas de cuidado a estes pacientes, realizados pelos enfermeiros que estão a frente do tratamento da tuberculose na Estratégia de Saúde da Família do município. E neste aspecto cabe um alerta para que sejam trabalhadas formas de atender as necessidades dos clientes com TB, associando o tratamento diretamente observado, a formas que legitimem também o saber do usuário, trazendo-o para junto do tratamento e diminuindo os riscos do abandono do mesmo. 

Descritores: Tuberculose; Cuidado de enfermagem; Compreensão. 

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde: Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº. 466 de 12 de dezembro de 2012. Trata da Pesquisa Envolvendo Seres Humanos. Brasília, 2012. Disponível em:< http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf> Acesso em: 12 out.2013.
HINO, P.; TAKAHASHI, R.F.; BERTOLOZZI, M.R.; VILLA, T.C.S; EGRY, M.Y. Conhecimento da equipe de saúde da família acerca das necessidades de saúde das pessoas com tuberculose. Revista. Latino-Americana de Enfermagem,v. 20, n.1. jan-fev. 2012.
LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, A. M. Discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (desdobramentos). Caxias do Sul : Educs, 2005.
PEQUENO, G. A. Descentralização da atenção aos casos de tuberculose no município de João Pessoa. João Pessoa, 2011.94 p. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2011.
SÁ, L. D; OLIVEIRA, et al. Abandono do tratamento e elenco de serviços no cuidado ao doente de tuberculose. Revista de Enfermagem da Ufpe OnLine,v. 4, n.3,  jul-set. 2010.Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v44n4/07.pdf>. Acesso em : 20 out 2012.
SOUZA, K. M. J. et al. Abandono do tratamento de tuberculose e relações de vínculo com a equipe de saúde da família. Rev. Esc. Enferm. USP, São Paulo, v. 44, n. 4, p.904-11, 2010. Disponível em :<http/www.ee.usp.br/reeusp/>. Acesso em: 09 out. 2011. 
PAZ,  E. P.A.;  SÁ,  A.M.M.. Cotidiano do tratamento a pessoas doentes de tuberculose em unidades básicas de saúde: uma abordagem fenomenológica, Revista  Latino-Americana de Enfermagem  ,v.17, n.2, mar-abr. 2009.
OBLITAS, M.Y. et al. O papel da enfermagem no contro¬le da tuberculose: uma discussão sob a perspectiva da equidade. Rev. Latino-Am. Enfermagem, v.18, n.1, jan-fev. 2010. Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-11692010000100020&script=sci_arttext&tlng=pt >. Acesso em: 20 nov. 2011.
TRIGUEIRO, J.S;  SILVA, A.C.O; GÓIS, G.A.S, ALMEIDA, S.A.; NOGUEIRA, J.A.; SÁ, L.D. Percepção de enfermeiros sobre educação em saúde no controle da tuberculose. Cienc. Cuid.Saude,  v.8, n.4, p.660-666. out-dez. 2009.